Estudos científicos

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Em 1990, o artigo do Professor Douglas Biklen intitulado "Communication Unbound: Autism and Praxis", publicado na revista Harvard Educational Review, descreveu o método da Comunicação Facilitada, a partir da observação do trabalho da australiana Rosemary Crossley. Depois de alguns anos, um grande número de estudos foram produzidos sobre a Comunicação Facilitada, com conclusões bastante divergentes. 

Estudos quantitativos controlados de discriminação de estímulos e passagem de mensagens contestaram a autenticidade e a autoria da comunicação produzida através da CF, sugerindo que eram os facilitadores que produziam as mensagens através do seu apoio físico (Bebko, Perry & Bryson, 1996; Eberlin, McConnachie, Ibel & Volpe, 1993; Wheeler Jacobson, Paglieri & Schwartz, 1993; Kezuka, 1997).

Por outro lado, estudos qualitativos foram realizados com vistas a aperfeiçoar o método, mitigar a influência do facilitador e permitir que as pessoas com deficiência pudessem contar suas próprias histórias. Esses estudos apoiaram a utilização da CF e trouxeram evidências de sua eficácia (Bernardi, & Tuzzi, 2011; Biklen & Cardinal, 1997; Biklen & Duchan, 1994; Biklen, Saha, e Kliewer, 1995; Broderick & Kasa-Hendrickson, 2001; Crossley, 1997; Emerson, Grayson, & Griffiths, 2001; Goddard & Goddard, 2012; Grayson, Emerson, Howard-Jones, e O'Neil, 2012; JanzenWilde, Higginbotham, 1995; Niemi & Karna-Lin, 2002; Robledo & Donnellan, 2008; Weiss, Wagner, & Bauman, 1996).

É importante notar que alguns dos usuários de CF que se submeteram a estudos controlados de passagem de mensagem e discriminação de estímulos e foram julgados como não digitando suas próprias palavras e pensamentos, posteriormente desenvolveram a digitação independente (sem o apoio físico de um facilitador). Isso indica que esses indivíduos eventualmente também comunicavam seus próprios pensamentos quando ainda utilizavam o apoio físico. Sobre o assunto, Beukelman & Mirenda (1998), em seu manual de Comunicação Alternativa e Aumentativa, concluíram:

"em relação a um pequeno grupo de pessoas ao redor do mundo que começaram a se comunicar através de CF (comunicação facilitada) e agora são capazes de escrever de forma independente ou com mínimo apoio manual sobre o ombro ... não pode haver dúvida de que, para eles [a comunicação facilitada] 'funcionou', na medida em que abriu a porta para a comunicação pela primeira vez ... Sharisa Kochmeister, Lucy Blackman, Larry Bissonnette, e outros que agora se comunicam fluentemente e de forma independente graças à CF. Para eles, a controvérsia acabou."

Desde o final da década de 1990, a produção de artigos de metodologia naturalista sobre Comunicação Facilitada aumentou bastante. Com isso, desde os primeiros estudos até hoje, mais de 100 artigos de pesquisa qualitativa favoráveis à Comunicação Facilitada foram publicados em revistas científicas revisadas por pares, em comparação a cerca de 40 estudos quantitativos na maioria desfavoráveis à CF.

Com o passar dos anos, o método da Comunicação Facilitada amadureceu, foram estabelecidas Boas Práticas e Padrões de Treinamento, e um número cada vez maior de casos de usuários alcançando a digitação independente tem sido documentado. Além disso, em anos recentes têm sido registrados casos de indivíduos autistas "não verbais" que também conseguiram se comunicar pela digitação sem utilizar a CF. Essas pessoas demonstram em suas mensagens o mesmo nível de inteligência e linguagem apresentado pelos usuários de CF (por exemplo: Fleischmann & Fleischmann, 2012 - "Carly's voice").

Esses fatos têm contribuído para uma aceitação cada vez maior da hipótese de que pessoas com autismo severo podem produzir uma comunicação de alto nível, e portanto, que as mensagens normalmente produzidas mediante CF são factíveis. 

Por fim, apesar da evidência mais forte da eficácia da CF vir das pesquisas qualitativas, alguns estudos utilizando métodos quantitativos e controlados também apresentaram evidências em favor do método. Por exemplo:

• Vídeo eye-tracking do olhar do usuário de CF, verificando que as letras individuais ou série de letras foram olhadas pelo sujeito antes mesmo dele fazer o primeiro movimento da mão em direção a um alvo (Grayson et al., 2012).

• Análise lingüística de mensagens digitadas que revelam que a linguagem produzida possui características pessoais do usuário de CF (Niemi & Karna-Lin, 2002; Tuzzi, 2009; Zanobini & Scopese, 2001).

• A evidência de fala coerente com o texto digitado, antes e durante a digitação, indicando a consciência do que está sendo digitado (Broderick & Kasa-Hendrickson, 2001; Kasa Hendrickson, Broderick, & Hanson, 2009).

• Estudos de passagem de mensagem em que indivíduos demonstraram autoria, nos quais a metodologia dos estudos foi concebida para dessensibilizar os participantes da ansiedade ao longo do estudo (Cardinal, Hanson, & Wakeham, 1996; Sheehan & Matuozzi, 1996; Weiss et al. 1996).

(Este texto foi baseado em Cardinal & Falvey, 2014 - "The maturing of Facilitated Communication")

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